segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Articulando o tempo Foucaultiano

Sendo o tema da minha monografia "Articulações entre Correntes Filosóficas e Teorias Linguísticas" confesso que tive dificuldades em pensar de que forma abordaria esse assunto. Mas lendo Foucault e suas obras achei um componente maravilhoso para trabalhar essa articulação, o "tempo". Toda a arqueologia do saber de Michel Foucault tem este componente como fator principal. É ele que dinamiza e autoriza a existência simbólica de uma via de mão dupla, que vai do presente para o passado e vice-versa. Essa via possui várias paragens e cada uma delas representa um período
de tempo histórico, onde ocorre o processo de "episteme", designado por Foucault como os saberes específicos de cada época que se entrecruzam entre si. Acho que é este o caminho que devo percorrer ao desenvolver o meu trabalho monográfico de final de curso.

sábado, 22 de novembro de 2008

Curiosidades Foucaultianas 2 - Desestruturando o Gênio (O lado negro de Michel Foucault)

A família Foucault possuía um pequeno solar no campo, e na infância de Paul-Michel, também construíram uma quinta litorânea na costa atlântica, em La Baule, onde podiam admirar nas férias as belas paisagens naturais que lá havia. Sua família era composta de 5 membros e empregados. Paul-Michel, vivia com sua irmã mais velha e o caçula era o “símbolo da normalidade”. Na escola o jovem Paul-Michel era frágil e míope e seus colegas caçoavam-no com o nome de Polchinelle, quem em francês representa a figura corcunda do teatro de marionetes conhecida como Polichinelo. Não se destacou na academia.

Aos 20 anos na sua Segunda tentativa de conseguir um lugar na École Normale Supérieure, em Paris. Foi o 4º colocado. Quem entrava neste colégio tornava-se uma espécime superior por toda a vida (ser “normalien”)Em Paris tirou seu primeiro nome, Paul, que era de seu pai, deixando somente Michel Foucault.

Na ENS, Foucault iniciou uma série de comportamentos agressivos. Feriu seu peito com uma navalha; perseguiu um estudante com um punhal; quase suicidou-se ao tomar uma overdose de comprimidos; bebia muito e de vez em quando experimentava drogas; desaparecia noites a fio – devido à um colapso nervoso - voltava pálido e com olheiras profundas. O que pode ter ocasionado tais comportamentos pelo fato do sofrimento em suas expedições solitárias sexuais e sua incapacidade de conviver consigo mesmo além de ninguém querer conviver com ele, pois achavam, que era um louco perigoso, porém de inquestionável brilhantismo. Em sua argumentação intelectual chegava a ser agressivo chegando a recorrer à violência, e daí começa nele a desenvolver doenças psicossomáticas e passou longos turnos em uma solitária cama de um sanatório.

Como tinha grande entusiasmo pela História começa a ler Hegel, filósofo alemão do século XIX, cuja filosofia insistia na coerência e no sentido da história, progrediu suas leituras para Heidegger, filósofo do século XX, que via a situação do homem como determinada por elementos mais profundos que mera razão. Então Foucault recebeu forte inspiração da filosofia de Heidegger e o seu primeiro contato com o seu pensamento é descrito por Hannah Arendt (sua aluna)

As idéias de Sartre, que também foi influenciado por Heidegger baseado no existencialismo, era basicamente subjetiva e acreditava na “ existência antes da essência”.Com o passar do tempo amadureceu-se academicamente numa tal velocidade e aceita sua opção sexual e violência de personalidade pois eram acalmadas por ocasionais práticas de sadomasoquistas.

Atraiu com o seu pensamento as lideranças ligadas à ENS que discutiam suas idéias. Atraiu a atenção de Louis Althusser, um jovem instrutor na ENS, que sobreviveu a guerra e tornou-se um machista convicto, o qual mais tarde enforcou sua esposa (1981) e foi confinado em um manicômio escrevendo lá sua brilhante autobiografia. Althusser convence Foucault a filiar-se ao Partido Comunista Francês (PCF), que era a principal força política da França, mas ele não sentiu-se bem, compareceu a poucas reuniões, pois não queria infiltrar-se no campo da política. Viu a homossexualidade ser desprezada pelo partido como mera “decadência burguesa”. Em 1951 fez um exame final e obteve um brilhante resultado em sua Segunda tentativa. Deparou agora com a possibilidade de cumprir o serviço militar, porém com seu histórico de depressão e manipulação da família consegue dispensa.

Certa noite socializando-se nos cafés intelectuais de Paris encontrou com um jovem compositor chamado Jean Barraqué, o qual tornou para Foucault um dos melhores compositores da música clássica contemporânea. Dois anos mais novo que Foucault, Barraqué era um artista bastante nervoso que bebia excessivamente e era admirador fervoroso de Nietzsche. Logo atraídos um pelo outro, apaixonaram-se em um amor que era uma mistura de filosofia intensa, descontrole alcoólico e sexo sadomasoquista. Para os dois a música e filosofia era uma coisa só. Mas a possessividade de Barraqué virou um ciúme paranóico e a independência obstinada de Foucault começa a sentir-se sufocada. E ambos sabendo que a bebida estava fugindo do controle, em uma briga explosiva separaram-se. Barraqué continuou a compor mas com um comportamento mais errático. Morreu em 1973 por causa do alcoolismo.Em agosto de 1955, Foucault aceita um cargo menor na Universidade de Uppsala, no sul da Suécia, lugar que encontrou uma certa paz. Surgia nele um ser humano mais moderno. Comprou um Jaguar para viagens de mais de mil quilômetros de volta a Paris nas férias. E à noite saía à procura de homens. Começou a ficar careca e habituou-se em vestir um terno xadrez de doer os olhos. Dava conferências sobre literatura francesa para turmas majoritariamente do sexo feminino, de + 18 anos, abordando o tema bastante restritivo: “A concepção do amor na literatura francesa, do Marquês de Sade e Jean Genet”, uma combinação de sadismo, sodomia e degeneração devassa . Aos 34 anos, Foucault, perde seu pai, e com a herança comprou um apartamento com uma vista maravilhosa dos cais do Sena, na Rue Dr. Finlay. E neste mesmo ano defendeu sua tese de Doutorado intitulada: “Loucura e Desrazão”. Conhece um estudante de filosofia e ativista político de esquerda, Daniel Defert, que era um jovem gay, atraente e dez anos mais novo que Foucault. A França passava por uma terrível guerra colonial na Argélia, na qual Foucault e Defert condenavam, mas discordavam em suas teorias políticas. Defert e Foucault se tornaram amantes. Defert foi morar com Foucault em seu apartamento. Foram parceiros por quase 20 anos em uma ligação afetiva profunda. E esta relação amorosa era aberta, sendo que ambos relacionavam-se com outros parceiros o que gerava crises de raiva e mau humor, mas não era nada tamanha afetividade. Em 1968, retorna a Paris, agora com 40 anos de idade. Começa então a se preocupar com os sinais da velhice. Irritando-se com a sua calvície decidiu raspar sua cabeça; passou a usar um suéter de gola alta e terno de veludo cotelê. E assim, “criava-se a imagem do filósofo careca com óculos, ‘chique-durão”.

Esteve no Brasil em 1965 para uma conferência a convite de Gerard Lebrun, seu aluno na rue d’Ulm, em 1964. Em decisão da Assembléia de Professores do Collège de France, a cadeira de História do Pensamento Filosófico, foi transformada em História dos sistemas de pensamento e Foucault foi eleito para esta cadeira em 12 de abril de 1970, onde terá fim com a sua morte.

Foucault e Defert se mudaram para um moderno apartamento antigo no alto da Rue de Vaugirard, morando no oitavo andar. Foucault adquiriu um novo hobby: voyeurismo de jovens rapazes nos outros apartamentos usando um potente binóculo. Voltou também a plantar canabis como fazia em Túnis. Foucault tornou-se a mais exótica criatura da noite, vestido em couro e fazendo ronda em bares sadomasô. Estes trajes o defiram como uma figura sinistra. Em 1970 foi convidado a dar palestras em Tóquio, e também deu início a um ciclo de conferências na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Descobriu em São Francisco os prazeres das termas onde pintavam centenas de homens para participar de sodomia. Em 1975 ele retorna à Universidade da Califórnia, em Berkeley. E suas brilhantes conferências teorizavam sobre vasta variedade do sexo anormal. Iniciou a pesquisa nas termas e salões sadomasô de São Francisco. Uma vez sob o efeito de morfina, quase foi atropelado ao atravessar a rua. 2 de junho do mesmo ano: sofre um colapso e foi hospitalizado, pois alguns anos vinha sofrendo com algumas doenças. Foucault tinha AIDS. E no dia 25 deste mês ele morre e seu funeral atraiu centenas de pessoas.


STRATHERN, Paul. Foucault em 90 minutos. Tradução de Cassio Boechat. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Entendendo Foucault

“As palavras não significam senão coisas, ao dizer o que é que as palavras significam, foi necessário dizer o que são as coisas”

- O Gramático –

Santo Anselmo de Cantuária

O objetivo da obra As Palavras e as Coisas é de realizar uma arqueologia das ciências humanas, cuja análise não é uma descrição isolada, mas produto de uma interrelação de saberes relevantes para o estabelecimento do modo de existência destas ciências (Foucault chamou de Episteme o conjunto dos saberes que caracterizou cada período da história do conhecimento). De modo geral, podemos dizer que Foucault analisa a positividade das ciências humanas através de suas relações com, por um lado, as ciências empíricas e, por outro, a filosofia moderna.As ciências empíricas e a filosofia podem explicar o aparecimento, na época da modernidade, desse conjunto de discursos denominados ciências humanas porque é com elas que o homem passa a desempenhar duas funções diferentes e complementares no âmbito do saber: por um lado, é parte das coisas empíricas, na medida em que vida, trabalho e linguagem, são objetos - objetos das ciências empíricas - que manifestam uma atividade humana; por outro lado, o homem - na filosofia - aparece como fundamento, como aquilo que torna possível qualquer saber. O fato de o homem desempenhar duas funções no saber da modernidade, isto é, sua existência como coisa empírica e, como fundamento filosófico é chamado por Foucault de a priori histórico, e é ele que explica o aparecimento das ciências humanas, isto é, do homem considerado não mais como objeto ou sujeito, mas como Representação.

Obra de apoio monográfico - "As Palavras e as Coisas"

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Curiosidades Foucaultianas, 1

Estou lendo a biografia de Michel Foucault, intitulada " Michel Foucault - Uma Biografia por Didier Eribon" , e confesso não está sendo fácil, tendo em vista que a própria vida do biografado foi bastante conturbada. Toda a sua vida escolar e acadêmica foi permeada por dificuldades impostas pela própria estruturação do ensino francês, ou seja, as melhores cabeças pensantes e abastadas tinham acesso aos melhores estudos. Foucault estava dentro desse parâmetro. Nascido de família rica de Poitiers, desenvolveu seus estudos, sempre com a ajuda de sua mãe. Mesmo com a guerra em sua porta, com o fechamento das escolas e a França invadida, seu estudo nunca fora interrompido.
A dificuldade de se ler Foucault está em compreendê-lo. Gênio intelectual foi figura de difícil convivência. Onde viveu e morou sempre causou polêmicas. A sua própria luta, interior e exterior, pelo fato de ter sido homossexual numa França pós-guerra, refletiu diretamente no seu pensamento, na sua produção acadêmica e no seu comportamento como aluno, professor e pessoa. A sua bandeira de luta foram os seus estudos, extremamente árduos. A biblioteca era o seu mundo favorito, onde estudava e escrevia seis horas por dia. Sua vida social era apenas um reflexo do seu trabalho. A idéia constante de suicídio fazia parte do seu mundo, onde não existiam espaços para o fracasso. O alto nível de cobrança que estabelecia para si mesmo o levava a momentos como esse...

sábado, 18 de outubro de 2008

Pensamentos Foucaultianos

Encarados como acontecimentos discursivos, os textos foucaultianos que assumem um posicionamento arqueológico possuem uma cronologia específica: de 1961, data de publicação da tese História da Loucura e onde aparece pela primeira vez o termo arqueologia ("arqueologia da alienação"), até o livro A arqueologia do saber (1969), em que o tema é tratado de forma mais intensa e um tanto explicativa. Dentro deste período, há ainda, de 1966, a obra mais conhecida de Michel Foucault, As palavras e as coisas, que tem por subtítulo Uma arqueologia das ciências humanas.